O presidente da
Câmara, Arthur Lira (PP-AL), criou um grupo de trabalho para discutir a
legalização dos jogos de azar, no último dia 9. A ideia é retomar um projeto de
lei apresentado em 1991 que pretende legalizar e regulamentar as atividades de
cassinos, jogo do bicho e bingos no país.
O assunto,
entretanto, ainda é alvo de resistência. Em conversa com a Exame, o relator do
grupo de trabalho, deputado Felipe Carreras (PSB-PE), detalhou o que tem sido
discutido entre os deputados. Veja os principais pontos:
Qual é a importância
desse projeto que está sendo retomado pelo grupo de trabalho?
Eu sempre tive uma
atuação muito grande voltada ao turismo nacional, e sempre foi falado dos
cassinos integrados de resorts, que são investimentos robustos, produtos
turísticos que geram emprego e renda. Na Comissão de Turismo, isso sempre foi
um ponto colocado nesta legislatura. Com um grupo que sempre foi entusiasta
desses cassinos de resorts, a gente levou o tema ao presidente Arthur Lira e a
gente acha que, nesse retorno do turismo internacional, é importante o Brasil
ter esse tipo de investimento.
Acham que seria um
bom momento, devido à crise?
Sem dúvida. Está
precisando gerar emprego e oportunidades. A gente tem esse tipo de
empreendimento nos Estados Unidos, no Canadá, no México. Isso acontece em
grandes nações na Ásia, América do Sul, Central, do Norte, na Europa. Por que o
Brasil vai ficar de fora?
A ideia é legalizar
todos os tipos de jogos de azar?
A gente está com foco
nos cassinos integrados de resorts e vai abrir discussão sobre outros jogos. Há
300 sites de apostas com cassino online, e isso não está regulamentado. Não
está gerando nenhum tipo de imposto, está indo tudo para fora do Brasil. Sobre
o jogo do bicho: parou quando? Qual é a periferia do Brasil que você não vê?
Está gerando emprego? Será que, se for regulamentado e fiscalizado, não poderia
ser uma opção? Talvez. A gente vai abrir uma discussão sobre isso.
O MPF já se
manifestou contra a legalização dos jogos de azar, e um dos argumentos é que
não há mecanismos previstos para fiscalização eficiente. Como pretendem
resolver esse problema?
Vamos ter agendas e
conversas com o MPF, com vários setores ligados à segurança, à economia, ao
turismo. Vamos fazer todas essas visitas e, a partir do diálogo, estabelecer os
prós e os contras. A gente quer entender quais são as barreiras, o porquê
delas, se tem algo a ser superado, quais os obstáculos para tentar, a partir
daí, ter algum norte.
Qual seria o
mecanismo previsto para fiscalização, que é uma das preocupações do MPF?
A gente está
discutindo, mas imagino que com tecnologia você consegue rastrear, acompanhar
tudo. A gente está no mundo do pix, um mundo em que, cada dia que passa, as
coisas estão mais digitais. É melhor estar do jeito que está, fazendo vista
grossa, ou melhor regulamentar, acompanhar e fiscalizar?
A fiscalização
ficaria a cargo de quem?
Ainda não temos
relatório pronto, estamos há 15 dias com o grupo de trabalho funcionando. Mas a
ideia é termos uma agência que faria esse tipo de acompanhamento. E pode ter
várias instituições e entidades participando. A gente acha que tem como ser por
meio de uma agência reguladora que acompanhe, tenha ferramentas, com
participação do MPF, da PF, de setores de segurança.
Há algum levantamento
de quanto seria possível arrecadar com a tributação dos jogos?
Não tenho esse número
ainda, mas falam, por exemplo, que Portugal arrecada, se não me engano, com
seis grandes cassinos, num país de 10 milhões de habitantes, que não se compara
com os atrativos e a diversidade que o Brasil tem, algo em torno de 5 bilhões
de euros ao ano. Imagina o que o Brasil está deixando de arrecadar.
Para onde iria esse
dinheiro?
Tudo está sendo
discutido. Em um jogo de fortuna e de aposta, como da Caixa, parte de tudo que
é gerado vai para esporte, cultura e até Cruz Vermelha recebe. Por que não
parte desses impostos ir para financiar esportes, saúde, educação, cultura? A
própria segurança nacional, organismos de fiscalização e controle.
Acredita que o
presidente Arthur Lira está disposto a pautar o tema?
A sinalização, ao
instalar o grupo de trabalho, é de que ele quer pautar. Agora o que o tem feito
é tirado a temperatura da Câmara, dos líderes, dos parlamentares, saber se o
assunto vai evoluir. Por exemplo, na reforma do IR, ele foi e voltou, passou um
mês para votar. Tudo é uma costura. Ele é simpático à ideia, tanto que topou
instalar e já nomeou o relator.
Qual a maior dificuldade?
O assunto trata de
inúmeros setores, é muito segmentado. Não adianta criar uma regra, um critério,
e não ter os grandes investidores que vão gerar emprego e renda. É tentar
conseguir um texto equilibrado, que tenha como premissa básica a questão da segurança,
das ferramentas de controle.
O governo está aberto
à ideia? Tem conversado?
Temos sinalizações
que o governo quer conversar e existem pessoas do governo que são favoráveis.
(Exame – Alessandra Azevedo, de Brasília)
Foto: Felipe
Carreras, relator do grupo de trabalho que discute a legalização dos jogos de
azar (Genilson Frazão/Divulgação)