GANHAM O ESTADO E A SOCIEDADE

Involuntariamente, senador opina por manter os jogos na ilegalidade

O artigo ‘Jogos de azar fazem mal’ do senador Eduardo Girão (Podemos/CE) é uma opinião daqueles que desejam manter o jogo na ilegalidade usando os argumentos e a tese equivocada do professor Earl Grinols no livro ‘Gambling in America: Costs and benefits’, que para cada dólar arrecadado com os jogos, três são gastos com problemas sociais. Esta teoria é uma bobagem e desonesta, pois não há evidência sobre a regra 3:1.

Os especialistas que criaram esta e outras ‘evidências’ foram financiados nos anos 90 por igrejas e movimentos anti-jogo dos EUA.

A citada tese foi introduzida no Brasil através de artigo de Ricardo Gazel veiculado pela revista Veja, em agosto de 2016. O BNLData submeteu a opinião a um especialista e professor da Universidade de Nevada. Confira a resposta e veja o nível de estelionatários intelectuais que temos que enfrentar todos os dias:

“O artigo do Gazel é bobagem. A desonestidade de simplesmente enfatizar aquilo que você concorda, fingindo que não há evidência do contrário. É frustrante. Mas também torna essas coisas divertidas. Esses caras continuam usando os mesmos argumentos dos anos 90, ignorando qualquer pesquisa com a qual eles não concordam, e citando ‘fatos’ que são completamente inventados – como a relação custo-benefício de Grinols: 3:1”, comentou o da Universidade de Nevada que teve acesso ao artigo do economista através do BNLData.

Outra distorção do senador é citar antigas manifestações dos órgãos de controle e ignorar a audiência na Procuradoria-Geral da República, realizada no dia 20 de fevereiro de 2020, quando o parlamentar foi recebido pelo procurador-geral da República. Durante o encontro, Augusto Aras destacou que, no momento, a questão é política e não jurídica, e que eventual atuação do MPF nesse sentido somente será possível em caso de a proposta, após ser aprovada pelo Parlamento, apresentar alguma inconstitucionalidade (veja a reportagem no site da PGR). Opositores insistem nos falsos argumentos que os órgãos de controles são contrários a legalização dos jogos e citam a PGR, COAF, Receita Federal e Polícia Federal.

Além disso, a opinião do senador agride uma lógica econômica ao afirmar que a legalização dos jogos “fragiliza o combate à corrupção, pois é extremamente vulnerável a crimes como sonegação fiscal, evasão de receita e lavagem de dinheiro”. É impossível uma empresa cometer os crimes de sonegação fiscal e lavagem de dinheiro. Ou lava ou sonega, os dois delitos são impossíveis.

Na verdade, o senador reproduz a maior lenda urbana que vincula os jogos de azar a lavagem de dinheiro. As alíquotas dos tributos são altas e é infinitamente mais fácil usar outras atividades vinculadas a serviços com reduzida tributação e de baixa fiscalização. O problema não é ser possível, mas ser muito dispendioso e por existirem opções mais baratas para os ‘lavadores’.

Os prêmios de jogos e loterias pagam imposto na fonte de 30% e os valores acima de R$ 10 mil existe necessidade de notificação obrigatória ao COAF.

Essa vinculação é uma ilusão criada pelos opositores para justificar uma proibição anacrônica. O jogo segue normalmente em cada esquina sem pagar impostos ou registrar seus empregados.

Os contrários deveriam entender que a legalização seria melhor para o país e para o cidadão. Não existe pecado maior que se aliar aqueles que pretendem manter o jogo na ilegalidade e que usam a patologia e a lavagem de dinheiro como argumentos. O jogo já existe e não começará a partir da legalização desta atividade.

Fonte: BNLData