Lula exclusivo: ‘Tenho desespero de pensar em 2011’ - Presidente fala sobre vida fora do governo, eleições, Cumbica, Corinthians e da possível volta dos bingos
O presidente Lula quer falar. Tem respostas na ponta da língua para temas polític19os e administrativos, brinca com a multa que tomou da Justiça Eleitoral e só põe óculos de leitura para consultar anotações sobre uns poucos números técnicos de realizações do governo. Acompanhado de cinco assessores, entre os quais o ministro Franklin Martins e a assessora especial Clara Ant, inicia pontualmente a entrevista em seu gabinete provisório no Centro Cultural Banco do Brasil, em Brasília, mas extrapola o tempo para continuar falando depois que a assessoria pede para começar a jornada de audiências. No total, conversou com o DIÁRIO por uma hora e quatro minutos. Por duas vezes pediu café — diretamente a assessores, sem cerimônia, como se estivesse numa sala do Sindicato dos Metalúrgicos na década de 80 —, substituto natural para o tabaco recém-abandonado (“Completamente! Tardiamente, mas firme”, como diz). O presidente está ansioso para viver plenamente os próximos nove meses, seus últimos na Presidência. Se sente “desesperado” ao pensar no dia 2 de janeiro de 2011, quando acordará ex-presidente, possivelmente em seu apartamento de pouco mais de 100 metros quadrados, na Avenida Francisco Prestes Maia, em São Bernardo. Na entrevista, citou 12 vezes os dois Planos de Aceleração do Crescimento (PAC 1 e 2). O nome da ministra Dilma Rousseff só apareceu duas vezes: uma ao explicar por que não se considerou culpado no caso da multa da Justiça Eleitoral por campanha antecipada; a outra, ao dizer que, se eleita “governadora” (sic), ela terá direito de se candidatar à reeleição, o que afastaria a hipótese de ele voltar em 2014. Escapa com habilidade de temas espinhosos. Ao dizer sua opinião sobre o polêmico projeto que legaliza bingos, que a base governista insiste em votar, se diz primeiro “contra”, mas termina por lembrar aposentados que querem se distrair no jogo. Um agrado para cada lado. Quando termina o tempo, o presidente cobra perguntas sobre futebol: “Nenhuma pergunta sobre esporte? Não é possível!”, brinca. E então, pela primeira vez, revela-se cauteloso e mede as palavras ao falar do Corinthians (“Aqui é preciso cuidado para não dar palpite errado”), mas deixa claro que não está otimista com o prognóstico do time na Libertadores e vê com alegria as partidas do Santos de Robinho e Neymar. Lula quer falar. Diz presidente:
O senhor é a favor ou contra a legalização dos bingos? Lula - Não só fui contra como mandei uma MP (medida provisória) proibindo os bingos e fui derrotado, em 2005. Se você quer legalizar tem que criar mecanismos para evitar que os bingos se transformem em pontos de lavagem de dinheiro e de incentivo a coisas ilícitas. Pensa-se em dar responsabilidade à Caixa Econômica Federal para controlar os bingos. Vamos ver como o Congresso vota. Quando mandei a lei acabando com o bingo, um ano depois, fui ao Rio e a Dercy Gonçalves me visitou. Com 100 anos de idade, ela disse: “Presidente, não deixa acabar com o bingo, eu não tenho o que fazer, estou velhinha, sento lá e perco meus dez reais, por quê acabar, presidente?”. Chego a São Bernardo, me pedem, “Presidente, eu sou aposentado, perco só meus dez reais”. Tem muita coisa para levar em conta. Tem uma parcela da sociedade, os aposentados, especialmente, que vão jogar. Se tiver um bingo funcionando com o controle da Caixa, que não permita que seja usado para lavagem de dinheiro, eu não vejo problema. O que não pode é ficar do jeito que está, uma hora parece proibido e outra hora não. Vamos ser francos, aquilo vira motivo de achaque de policiais. Então, é melhor você ter uma coisa transparente, à luz do dia. (Diário de São Paulo - Gilberto Bergamin Jr. e Leão Serva) Clique aqui e confira a íntegra da entrevista do presidente Lula.